quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Religião e cidadania

Por Ed René Kivitz

Igreja não vota. Igreja não faz aliança política. Igreja não apoia candidato. Igreja não se envolve com política partidária. Há pelo menos cinco razões para este posicionamento.

Primeira: o Estado é laico. Igreja e Estado são instituições distintas e autônomas entre si. É inadmissível que, em nome da religião, os cidadãos livres sofram pressões ideológicas. Assim como é deplorável que os religiosos livres sofram pressões ideológicas perpetradas pelo Estado. É incoerente que um Estado de Direito tenha feriados santos, expressões religiosas gravadas em suas cédulas de dinheiro, espaços e recursos públicos loteados entre segmentos religiosos institucionais. É uma vergonha que líderes espirituais emprestem sua credibilidade em questão de fé para servir aos interesses efêmeros e dúbios (em termos de postulados ideológicos e valores morais) da política eleitoral ou eleitoreira.

Segunda: o voto é uma prerrogativa do cidadão. Assim como os clubes de futebol, as organizações não governamentais, as entidades de classe, as associações culturais e as instituições filantrópicas não votam, também a igreja não vota. Quem vota é o cidadão. O cidadão pode ser influenciado, melhor seria, educado, por todos os segmentos organizados da sociedade civil, inclusive a igreja. Mas quem vota é o cidadão.

Terceira: a igreja é um espaço democrático. A igreja é lugar para todos os cidadãos, independentemente de raça, sexo, classe social e, no caso, opção política. A igreja é lugar do vereador de um lado, do deputado de outro lado, e do senador que não sabe de que lado está. A igreja que abraça uma candidatura específica ou faz uma aliança partidária, direta e indiretamente rejeita e marginaliza aqueles dentre seu rebanho que fizeram opções diferentes.

Quarta: a igreja não tem autoridade histórica para se envolver em política. Na verdade, não se trata apenas de uma questão a respeito da igreja cristã, mas de toda e qualquer expressão religiosa institucional. A mistura entre política e religião é responsável pelos maiores males da história da humanidade. Os católicos na Península Ibérica e em toda a Europa Ocidental. Os protestantes na Índia. Os católicos e os protestantes na Irlanda. Os judeus no Oriente Médio. Os islâmicos na Europa e na América. Todos estes cometeram o pior dos crimes: matar em nome de Deus. Saramago disse com propriedade que "as religiões, todas elas, sem exceção, nunca serviram para aproximar e congraçar os homens, que, pelo contrário, foram e continuam a ser causa de sofrimentos inenarráveis, de morticínios, de monstruosas violências físicas e espirituais que constituem um dos mais tenebrosos capítulos da miserável história humana".

Quinta: o papel social da igreja é profético. Quando o governo acerta a igreja aplaude. Quando o governo erra a igreja denuncia. Quando a autoridade civil cumpre seu papel institucional a igreja acata. Quando a autoridade civil trai seu papel institucional a igreja se rebela. A igreja não está do lado do governo, nem da oposição. A igreja está do lado da justiça.

Todo cristão é também cidadão. Todo cristão deve exercer sua cidadania à luz dos valores do reino de Deus e do melhor e máximo possível da ética cristã, somando forças em todos os processos solidários, e engajado em todos os movimentos de justiça. Comparecer às urnas é uma ato intransferível de cidadania, um direito inalienável que custou caro às gerações do passado recente do Brasil, e uma oportunidade de cooperar, ainda que de maneira mínima, na construção de uma sociedade livre, justa e pacífica.

[Publicado pela primeira vez em setembro de 2006]

Fonte: http://forumcristaoprofissionais.com/

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A história dos Morávios


Os morávios são os habitantes eslavos da moderna Morávia, a parte mais oriental da República Tcheca. Eles falam dialetos morávios da língua tcheca e são nos dias de hoje considerados um ramo dos tchecos. A questão "será que os morávios fazem parte da nação tcheca ou não?" ainda é viva para alguns grupos da Morávia. Alguns morávios declaram etnicidade separada. Contudo, o problema quase não tem dimensão política e para a maioria da população a questão da língua morávia ou de uma nação morávia é puramente folclórica. Uma razão para disputas, pode vir do fato de que, por razões históricas distantes, a expressão em tcheco utilizada para tchecos e boêmios era a mesma: Čech. Então teoricamente pode não estar claro a que povo a expressão se referia quando utilizada. Poderiam se referir a boêmios, morávios, e às vezes até a silésios quando citado.

O avivamento

Os morávios foram um dos grupos que mais trouxe impacto ao mundo. A vida que eles tinham com Deus mudou o curso de toda a história. O mundo estava experimentando uma frieza religiosa. O pensamento racionalista havia invadido as escolas e as igrejas. Os pregadores haviam tornado as suas mensagens muito dogmáticas e estéreis. Tudo eram debates. Todos queriam apresentar os seus conhecimentos intelectuais. Havia muitos que conheciam coisas acerca de Deus. Mas eram raros os que conheciam a Deus. Por causa disso, por causa desse desconhecimento de Deus, diversas revoluções sangrentas aconteceram no século XVIII. Uma dessas revoluções foi a revolução francesa. Muitas pessoas morreram injustamente na França. Sem dúvida, quando o homem tira os seus olhos de Deus, a carne e o pecado começam a aparecer, trazendo destruição e miséria. E foi nesse tempo de crise, de racionalismo, de frieza espiritual, que Deus levantou os morávios. De fato, Deus, por sua misericórdia, sempre levanta pessoas nos momentos turbulentos da história. Os morávios eram pessoas que estavam escapando da sua terra em consequência de uma terrível guerra, a guerra dos trinta anos.

Todos eles eram protestantes. Todos eles eram evangélicos. Contudo, como nós falamos nos dias de hoje, eles eram de denominações diferentes. Uns eram hussitas, outros calvinistas e ainda outros luteranos. Contudo, todos eles foram para o mesmo lugar. Eles foram morar nas terras de um conde muito rico, chamado Zinzendorf. Nessas terras eles estabeleceram a comunidade de Herrnhut, que significa, "redil do Senhor". Entretanto, no princípio, esses refugiados de guerra tinham muitas rivalidades entre si. Cada qual tentava impor ao outro a sua forma de pensar. Cada um tentava apresentar ao outro os seus conhecimentos intelectuais. E as suas próprias paixões religiosas os estavam destruindo mutuamente.

Mas no dia 5 de agosto de 1727, depois de um período de oração, eles resolveram fazer uma aliança fraternal. Eles decidiram não mais criar debates e confusões. Eles decidiram enfatizar apenas os pontos em que concordassem e não os que divergiam entre si. Sobre esse dia, no diário deles está escrito: "Neste dia, o Conde fez uma aliança com o Senhor. Os irmãos prometeram, um por um, que seriam verdadeiros seguidores do Salvador. Vontade própria, amor próprio, desobediência - eles se despediriam de tudo isso. Procurariam ser pobres de espírito. Ninguém deveria buscar o próprio interesse. Cada um se entregaria para ser ensinado pelo Espírito Santo. Pela operação poderosa da graça de Deus, todos foram não somente convencidos, mas arrastados e dominados." Praticamente, uma semana depois dessa aliança, no domingo, 13 de agosto, mais ou menos ao meio dia, numa reunião onde se celebrava a Ceia do Senhor, mudanças começaram a acontecer. Nessa reunião, o poder e a bênção de Deus vieram de forma poderosa. Tanto o grupo quanto o pastor caíram juntos, no pó, diante de Deus. E tal era a consciência da presença, que ninguém se levantou para ir embora. Todos permaneceram prostrados até a meia noite, tomados em oração e cântico, choro e súplicas. Nessa reunião, o Senhor Jesus lhes apareceu como Cordeiro, levado ao matadouro, traspassado pelas suas transgressões e moído pelas suas iniquidades (Is 53.7,5).

Na presença do Senhor, eles se sentiram muito pecadores e também muito felizes por causa da graça de Deus, que os trouxe à salvação. Suas controvérsias e rixas foram silenciadas; suas paixões e orgulho foram crucificados. Tudo isso aconteceu enquanto fitavam atentamente às agonias do Cordeiro de Deus, crucificado em favor dos homens. A oração os uniu. Assim, no dia 26 de agosto, eles começaram a orar. Eles entenderam que, da mesma maneira como nunca se havia permitido que o fogo sagrado se apagasse no altar (Lv 6.12, 13), eles, que eram o templo do Deus vivo, jamais deveriam deixar que o fogo da oração deixasse de subir a Deus como um incenso santo (1 Co 3.16; 1 Ts 5.17; Ap 8.3,4). Nesse pensamento, 24 irmãos e 24 irmãs iniciaram uma reunião de oração que tivesse a duração de 24 horas por dia. Essa reunião de oração começou no dia 26 de agosto de 1727 e terminou somente depois de 26 de agosto de 1827. Foram mais de 100 anos de oração ininterrupta. Aquelas pessoas se revezaram em oração e oraram por mais de 100 anos! Durante esse tempo, o zelo evangelístico cresceu de tal maneira que em vinte cinco anos eles enviaram mais missionários que todas as igrejas protestantes juntas.

Em todo tempo, os morávios encontraram incentivo no texto de Isaías 53.3-12. Eles faziam do sofrimento do Senhor o impulso e fonte de toda a sua atividade. De fato, dessa profecia eles tiraram o seu "brado de guerra" missionário: "Conquistar para o Cordeiro que foi morto a recompensa dos Seus sofrimentos".

Que o Senhor nos abençoe e nos use para trazer impacto à nossa geração! Amém*

*Extraído: Pastor Gustavo Borja Bessa

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Jesus Cristo é o Senhor

Nascido em Breslau, na Alemanha, em 4 de fevereiro de 1906, Dietrich Bonhoeffer foi teólogo, pastor luterano e um dos mentores e signatários da Declaração de Bremen, quando, em 1934, diversos pastores luteranos e reformados formaram a Bekennende Kirche (Igreja Confessante), rejeitando desafiadoramente o nazismo: “Jesus Cristo, e não homem algum ou o Estado, é o nosso único Salvador”.
Seus últimos dois anos foram vividos na Prisão Preventiva do Exército em Tegel, até que, em 9 de abril de 1945, pouco tempo depois do suicídio de Adolf Hitler e apenas três semanas antes que as tropas aliadas libertassem o campo, foi enforcado em virtude de seu engajamento na resistência anti-nazista.
O pensamento de Bonhoeffer figura entre as páginas imprescindíveis para quem deseja superar os estreitos limites da religião como sistema organizado e institucionalizado e experimentar o poder do evangelho. Poucos pensadores foram capazes de discernir tão claramente que o Cristianismo é a superação da religião, isto é, extrapola quaisquer sistemas organizativos da vivência espiritual e da relação com o sagrado e o divino.
Bonhoeffer nos ajuda a compreender que o cristianismo não é uma religião que se apoia na realidade metafísica para fugir da realidade desse mundo. Isto é, o cristianismo não é a afirmação de outro mundo (o céu depois da morte) em detrimento desse mundo em que vivemos. O cristianismo não é, também, uma religião que valoriza a interioridade da alma, em oposição à exterioridade da história, nem tampouco que se ocupa do individualismo e da autosatisfação egoísta, em detrimento do compromisso concreto da vida voltada para o próximo. Também não é, o cristianismo, compreendia Bonhoeffer, uma religião que fragmenta a realidade e a divide entre sagrada e profana, optando por se dedicar apenas à dimensão considerada sagrada.
Para Bonhoeffer, Deus não se revelou por meio de um homem religioso, mas sim por meio de um homem; não em um sacerdote, mas em um homem comum; não no espaço sagrado, mas na vida cotidiana. Mas os fariseus e os peritos na lei rejeitaram o propósito de Deus para eles, não sendo batizados por João. “A que posso, pois, comparar os homens desta geração?”, prosseguiu Jesus. “Com que se parecem? São como crianças que ficam sentadas na praça e gritam umas às outras: ‘Nós lhes tocamos flauta, mas vocês não dançaram; cantamos um lamento, mas vocês não choraram’. Pois veio João Batista, que jejua e não bebe vinho, e vocês dizem: ‘Ele tem demônio’. Veio o Filho do homem, comendo e bebendo, e vocês dizem: ‘Aí está um comilão e beberrão, amigo de publicanos e pecadores”.[Lucas 7.33,34]
Jesus era contado entre os não religiosos. Vivia à mesa com pecadores. Transitava livremente pelos ambientes profanos e mundanos, como se sagrados fossem, e, quando penetrava os espaços sagrados e religiosos, fazia ares de asco e nojo, como quem pisava solo profano e mundano.
Jesus Cristo é Deus feito homem. Isso deve ser suficiente para elevar a condição humana à altura da dignidade divina. Da mesma maneira, considerando que Deus é não apenas criador, como, também, redentor de todas as coisas e dimensões da vida humana, a totalidade da vida humana deve ser lugar de sua presença, participação e expressão. Isso quer dizer que devemos seguir a Jesus Cristo, não por meio da prática dos ritos religiosos, sob a autoridade de uma elite religiosa, em lugares e momentos especiais e esporádicos, mas vivendo plenamente nossa humanidade, nas circunstâncias e contingências da vida como ela é. A encarnação de Deus em Jesus Cristo é afirmação de que devemos assumir também nossa plena humanidade e assim viver para a glória de Deus.
A presença de Deus no mundo dos homens é a afirmação de que o evangelho não é coisa de outro mundo”, não está contido no interior do coração, nem divide o mundo em partes conflitantes, as puras e as imundas. A incursão de Deus para dentro da humanidade é afirmação de que não devemos, não podemos e, melhor ainda, não precisamos separar a vida em dimensões: esse mundo versus o outro mundo; o espírito e o corpo; o sagrado e o profano.
A correta compreensão da pessoa, vida e obra de Jesus Cristo nos liberta para vivermos no mundo, mesmo não pertencendo ao mundo, sem, contudo, desprezar o mundo. Foi por causa disso que Bonhoeffer escolheu conspirar contra o nazismo, o que o levou à prisão e, posteriormente, à morte. Fato estranho e opção escandalosa para a maioria dos cristãos, não apenas de sua época, como também de hoje. Mas absolutamente coerente com a convicção de que Deus está não apenas interessado em tudo quanto acontece nesse mundo, como também engajado em enfrentar e destronar todos quantos se levantam para infernizar esse mundo e fazer dele menos humano e, portanto, menos divino. Jesus Cristo é o Senhor: aqui, ali e além, antes e agora, e para todo o sempre. Amém.
Ed René Kivitz

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Eleições 2010, fique atento! Cuide bem do seu voto!

A Igreja que não existe mais!

"Todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e bens e os repartiam por todos, segundo a necessidade de cada um. E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E cada dia acrescentava-lhes o Senhor os que iam sendo salvos." At 2. 43-47

Na época do surgimento da Igreja do Novo Testamento, a palavra igreja significava, apenas, uma reunião qualquer de um grupo organizado ou não. Assim, o texto nos revela que havia um grupo organizado em torno de sua fé (Todos os que criam estavam unidos) – todos acreditavam em Cristo.

Segundo o texto, os participantes do grupo do Cristo não tinham propriedade pessoal, tudo era de todos (tinham tudo em comum)– os membros desse grupo vendiam suas propriedades e bens e repartiam por todos – e isso era administrado a partir da necessidade de cada um; e se reuniam todos os dias no templo; e pensavam todos do mesmo jeito, primando pelo mesmo padrão de vida (unânimes); e comiam juntos todos os dias, repartidos em casas, que, agora, eram de todos, uma vez que não havia mais propriedade particular; e eram alegres e de coração simples; e viviam a louvar a Deus; e todo o povo gostava deles, e o grupo crescia diariamente. Diariamente, portanto, havia gente acreditando em Cristo, se unindo ao grupo, abrindo mão de suas propriedades e bens e colocando tudo a disposição de todos.

Essa Igreja era a Comunhão dos santos – chamados e trazidos para fora do império das trevas, para servirem ao Criador, no Reino da Luz.

Essa Igreja não precisava orar por necessidades materiais e sociais, bastava contar para os irmãos, que a comunidade resolvia a necessidade deles.

Deus havia respondido, a priori, todas as orações por necessidades materiais e sociais, fazendo surgir uma comunidade solidária.

O pedido: "O pão nosso de cada dia, dá-nos hoje. (MT 6.9) " estava respondido, e diariamente.

Então, para haver o "pão nosso" não pode haver o pão, o bem ou a propriedade minha, todos os bens e propriedades têm de ser de todos.

Mais tarde, eles elegeram um grupo de pessoas, chamadas de diáconos – garçons, para cuidar disso (At 6.3). Então, diante de qualquer necessidade, bastava procurar os garçons, que a comunidade cuidava de tudo. Era o princípio do direito: se alguém tinha uma necessidade, a comunidade tinha um dever.

Essa Igreja não existe mais!
Leia +.

Ariovaldo Ramos

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